Por Williams Ferreira e Marcelo Ribeiro
(Viçosa – 22/06/2022) Nos últimos trinta dias, no Sudeste do Brasil o volume de chuvas totalizou 15 a 30 mm abaixo do normal conforme representado nas áreas em marrom na Figura 1. Já nas áreas em verde, na mesma figura, o volume de chuvas foi 15 a 30 acima do normal. O clima sazonalmente mais seco dominou as principais áreas de café em Minas. Todavia, nas montanhas do Espírito Santo e na Média Mogiana as chuvas chegaram a valores entre 25 a 50 mm.
Figura 1. Anomalias da temperatura entre os dias 21 de maio a 19 de junho de 2022.
Áreas em marrom: choveu entre 15 e 30 mm abaixo da média do período.
Áreas em verde: choveu entre 15 e 30 mm acima da média do período.
O fenômeno ENOS
Em maio de 2022 a atividade convectiva próximo da linha de data no Pacífico equatorial estava abaixo do normal e os ventos alísios mais fortes que o normal. No Pacífico, as temperaturas nos primeiros 300 metros de profundidade estavam acima do normal na parte oeste e abaixo do normal na parte leste do Pacífico (Figura 2). Tais condições oceânicas e atmosféricas são consistentes com características comumente observadas em eventos La Niña e indicam que as condições de La Niña permanecem em curso no Pacífico equatorial. Diante das atuais condições, é esperado que o La Niña permaneça ativo durante o atual inverno.
Figura 2. Variação, longitudinal e temporal, das anomalias (em relação as temperaturas médias calculadas no período de 1991 a 2020) que ocorrem nas temperaturas dos primeiros 300 metros de profundidade dos oceanos ao longo do equador. Realizada em 12 de junho de 2022.
Fonte: Centro de Previsão Climática do NOAA.
https://www.cpc.ncep.noaa.gov
As chuvas ao longo do inverno
Com base na Figura 3, é esperado que o atual inverno seja mais seco na região de tons amarelados, e chuvoso nos tons esverdeados. Maior probabilidade de que o mês de julho poderá ser mais seco do que o normal é esperado para Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. Já em agosto, na região mais a Oeste do Paraná e de Santa Catarina, poderá ser mais seco, bem como a região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Em setembro, além da porção mais a Oeste do Paraná e de Santa Catarina é esperado que seja mais seca também a região central de São Paulo, o Extremo Sul da Bahia e o Norte do Espírito Santo.
Figura 3. Probabilidade de ocorrência de temperaturas para o trimestre julho, agosto e setembro de 2022. Quanto mais escuro os tons das cores, maior a probabilidade de ocorrência do evento. Tons amarelados representam chuva abaixo da média e tons esverdeados representam chuva acima da média. Elaborado com base nos dados COPERNICUS que se destaca como um serviço operacional voltado para Mudanças Climáticas gerido pela Comissão Europeia.
As temperaturas ao longo do inverno
Em julho, na região cafeeira da Chapada de Minas e nas Matas de Minas, as temperaturas poderão continuar abaixo da média normal do período. Já as regiões do Cerrado Mineiro e a Alta Mogiana poderão apresentar temperaturas acima da média, sendo que no Sul de Minas as temperaturas são esperadas que fiquem dentro da normalidade do mês. Nesse mês, ainda que os dias frio possam apresentar temperaturas agradáveis entre as 10 e as 15 horas, ao longo da madrugada, e principalmente em torno do nascer do Sol, são esperadas temperaturas bem baixas nas regiões da Chapada de Minas e nas Matas de Minas.
Em agosto, é esperado temperaturas pouco acima da média do período para as regiões do Cerrado Mineiro, a porção Oeste do Sul de Minas e para a Chapada de Minas, nas demais regiões a temperatura deverá ocorrer dentro da média do período.
Em setembro é esperado temperatura dentro da média, ou pouco acima, para todo o Estado de Minas Gerais e de São Paulo.
A chuva nas próximas semanas
Nas próximas duas semanas são esperadas chuvas no Rio Grande do Sul e, em menor volume, em Santa Catarina. Também é esperado a ocorrência de chuva em uma faixa litorânea que vai desde a Ilha de Marajó, no estado do Pará, passando pelo litoral maranhense e seguindo até o litoral de Sergipe. Maiores volumes são esperados no litoral de Alagoas e Pernambuco, bem como no Pará, entre Salvaterra, na microrregião do Arari na Ilha do Marajó até Alcantara, no litoral ocidental maranhense.
Café
Considerando a probabilidade de que o atual inverno seja mais seco na região cafeeira, a baixa umidade relativa do ar poderá contribuir para a qualidade do café que está sendo colhido nesta safra. Devido a pouca chuva que ocorreu em determinadas regiões cafeeiras, tendo começado na segunda quinzena de fevereiro, problemas de má formação dos grãos têm sido relatados por alguns produtores. Adicionalmente a esse fato há também a expectativa da colheita de uma safra menor. Logo, o produtor precisa intensificar os cuidados com a sua colheita de modo a assegurar a produção de cafés de qualidade já que com a escassez do produto no mercado ele poderá conseguir bons preços na atual safra.
O mercado do café mantém a tendência de oscilação e alta nos preços e o cafeicultor que possuir estoques deve ficar atento e aproveitar os bons preços para vender de acordo com sua necessidade.
Destaca-se que o produtor não pode esquecer que para produzir café de qualidade, com alto valor de mercado, é preciso ter cuidados especiais na colheita, no processamento dos frutos e na secagem do café. O café é um produto que tem o seu valor de mercado estritamente relacionado com seu aspecto qualitativo, logo, o produtor deve sempre investir em todos os processos que contribuem para a obtenção de um café de qualidade.
Considerando que no atual momento é comum a produção de mudas de café, fica o alerta para aquele viveirista que ainda não semeou, que o faça rapidamente, para que possa ter mudas em bom estádio de desenvolvimento no início do período das chuvas. Outra atividade que deve ser realizada neste período é a coleta de amostra de solos para o planejamento e aquisição de fertilizantes e corretivos, os quais devem ser realizados com base nos resultados de uma análise de solos.
Prognóstico
As análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram elaborados com base nas estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; pelo Met Office Hadley Centre; pelo Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET. (5º Disme) / CPTEC-Inpe.
O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano ou prejuízo que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. – williams.ferreira@embrapa.br .
Marcelo Ribeiro é pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br.