(Patos de Minas- 06/02/2017) – A biofortificação é o conjunto de técnicas utilizadas para enriquecer a planta com substâncias que melhoram a qualidade nutricional dos grãos e outras estruturas comestíveis promovendo mais saúde para as pessoas ou animais que a consome. Também é uma forma de incrementar o rendimento das culturas.Várias pesquisas sobre biofortificação são conduzidas no Campo Experimental de Sertãozinho, em Patos de Minas, pela EPAMIG.
De acordo com o pesquisador da Empresa Fábio Aurélio, há duas estratégias básicas de biofortificação. “A genética, por meio de técnicas de melhoramento – quer sejam aquelas ditas convencionais ou clássicase, ainda, as assistidas por biotecnologia, como é o casoda transgenia. Esta visa possibilitar a obtenção de cultivares que tenham maior capacidade de absorção de um nutriente, bem como sua biodisponibilidade. A segundaestratégia é a agronômica, que busca através de técnicas de manejo agronômico aumentar a absorção e biodisponibilidade de nutrientes nas plantas”, explica. O objetivo principal das pesquisas da EPAMIG é avaliar técnicas de biofortificação agronômica.
Os experimentos conduzidos pelo pesquisadorsão realizados nas culturas do arroz e do trigo. O trabalhofaz parte do projeto internacional HarvestZinc, coordenado no Brasil pela EPAMIG, em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla), e do Programa HarvestPlus, coordenando nacionalmente pela Embrapa. “Neste estudo,que está na fase de avaliação dos efeitos do enriquecimento dos alimentos com zinco e iodo, as plantas são enriquecidas com os nutrientes por meio de adubações via solo e pulverização da sua parte aérea”, diz. Outro estudotrata dabiofortificação de arroz com selênio por meio da adubação via solo, tanto na semeadura quanto na adubação nitrogenada de cobertura. Também avalia os efeitos da aplicação de elementos terras raras. “Pesquisas anteriores apresentaram indicativos de ganho na resistência da cultura agrícola aos efeitos do déficit hídrico (seca prolongada)”, informa.
Abiofortificação é uma novidade que já apresenta resultados em inúmeras experiências por todo o mundo. É mais aplicada em culturas consumidas por grande parcela da população,como é o caso do arroz, trigo e feijão, que podem ser usadas em programas de grande alcance para melhorar a nutrição da população. Na opinião de Fábio Aurélio, estes estudos podem indicar caminhos, balizar futuras legislações que impliquem sobre a valorização dos produtos biofortificados ou até mesmo a obrigatoriedade da presença de determinados elementos químicos nos fertilizantes comercializados para os produtores rurais. “As possibilidades são infinitas e já estamos pensando em estratégias para biofortificação de pastagens e de culturas voltadas para a produção de ração, como o milho e soja, na expectativa de potencializar o rendimento dos rebanhos”, acrescenta.
De acordo com o coordenador do Programa HarvestZincno Brasil, oprofessor do Departamento de Ciência do Solo da Ufla, Luiz Roberto Guimarães Guilherme, nesta linha de pesquisa, primeiro, é necessário fazer a biofortificação genética. “Entre as diversas plantas, podemos descobrir e selecionar aquelas com maior teor de nutrientes. Em alguns casos, existe limitação da capacidade dessas plantas de acumular esses elementos, pois eles não existem em grandes quantidades nos solos. Esse problema ocorre muito no Brasil. É preciso adicionar nutrientes ao ambiente no qual as plantas estão crescendo, pelo processo da biofortificação agronômica. Os nutrientes podem ser adicionados ao solo ou pulverizados nas folhas. Os métodos também podem ser complementares”, explica.Ele salienta ainda que para obter produtos agrícolas mais nutritivos é necessário conciliar a biofortificação genética à biofortificação agronômica, realizada por meio da aplicação de adubos contendo nutrientes indispensáveis ao adequado desenvolvimento das plantas e/ou dos animais, como zinco, ferro, selênio e iodo. “Essa prática tem sido bem utilizada no nosso país para enriquecer alimentos como arroz, feijão, milho, mandioca, trigo, abóbora e batata-doce”, acrescenta.
Para o pesquisador da EPAMIG Maurício Coelho,que estuda biofortificação de zinco nas culturas de arroz e trigo no Campo Experimental de Sertãozinho, resultados na cultura de arroz comprovaram que há possibilidade de aumentar o teor de zinco nos grãos da planta. “Desde que sejam adotadas determinadas técnicas de aplicação envolvendo fontes de zinco, época de aplicação e formas de aplicação”, explica. O pesquisador informa que outros nutrientes também estão sendo estudados e que este ano será avaliada a possibilidade de biofortificação do arroz com selênio. “Optamos inicialmente pelo trabalho com arroz e trigo, pois enxergamos uma possibilidade de melhorar a qualidade de alimentos que são acessíveis, principalmente, à população de renda mais baixa”, comenta.
Para Maurício, a biofortificação se torna uma prática para vencer o desafio da desnutrição de uma forma sustentável e garantir a segurança alimentar. “Segurança alimentar tem sido um tema constante da Organização das Nações Unidas (ONU) devido ao crescimento acelerado da população mundial, que faz a demanda por alimentos ser cada vez maior. Dados apontam que milhões de pessoas no mundo tem deficiência de micronutrientes no organismo, porque não consomem alimentos em quantidade e qualidade suficientes para suprir suas necessidades diárias de energia”, conclui.