Conhecimento e manejo correto das forrageiras são importantes para garantir a sustentabilidade e lucratividade da bovinocultura
(Belo Horizonte – 21/1/2021) A bovinocultura brasileira passa por grandes transformações. Os motivos estão relacionados à segurança alimentar, ao bem estar dos animais, ao aumento das exigências dos consumidores, à competição com outras fontes de proteína animal, além da competição por terras destinadas a culturas agrícolas. Desenvolver e adotar tecnologias capazes de ampliar a capacidade de produção são fundamentais. Nesse sentido, uma fazenda bovina deve ser vista como uma empresa, rigorosamente administrada, no intuito de apresentar resultados eficientes do ponto de vista zootécnico e econômico.
De acordo com o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Sidnei Lopes, por estar localizado em uma região tropical, o Brasil apresenta potencial elevado para produção de biomassa vegetal, o que favorece a exploração de bovinos em pastejo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, só em Minas são mais de 25 milhões de hectares de pastagens, cerca de 30% do território do estado.
“As pastagens se destacam dos demais meios de alimentação para bovinos porque são uma fonte mais barata de energia e nutrientes, apresentam baixo custo de produção, quando comparadas a outras fontes de alimentos, e são práticas, pois podem ser colhidas pelos próprios animais”, explica Sidnei.
Sazonalidade, degradação e recuperação
O sistema de pastagens passa por períodos de grandes disponibilidades e qualidade da forragem, e por períodos de escassez. Isso ocorre devido às variações sazonais características dos trópicos e de aspectos ligados às próprias plantas forrageiras.
Além disso, Sidnei Lopes destaca outros fatores de degradação das pastagens, como a acidez e a baixa fertilidade do solo, a falta de adubação corretiva e de manutenção, as práticas inadequadas de formação e manejos deficientes.
“A degradação de pastagens é um processo evolutivo de perda de vigor e produtividade da forrageira, sem possibilidade de recuperação natural, o que afeta a produção forrageira e o desempenho animal e culmina com a degradação do solo e dos recursos naturais em função de manejos inadequados. Por isso, é importante cuidar das pastagens com grande atenção e aplicação de técnicas e tecnologias para recuperar a vegetação”, explica.
O pesquisador da EPAMIG, Ítalo de Almeida, chama atenção para o fato de que, no Brasil, as pastagens são geralmente relegadas a condições ruins de solo e topografia. Para ele, há uma busca equivocada por uma “forrageira milagrosa”.
“Esses solos são encontrados, muitas vezes, exauridos após anos seguidos de exploração irracional. Isso acarreta perda de produtividade e vigor, aparecimento de plantas não desejáveis, surgimento de pragas, doenças e áreas com solo sem vegetação. Em casos extremos, temos até a completa erosão do solo”, enfatiza Ítalo.
O pesquisador também enfatiza que as forrageiras são constantemente submetidas a estresses por pisoteio, pastejo e corte. Segundo Ítalo, é necessário dar às forrageiras as mesmas condições físicas, químicas e biológicas de solo dadas a outras culturas economicamente exploradas.
“Esse é um ponto de particular importância, pois ainda há uma crença no Brasil de que o uso de corretivos e a adubação de pastagens é caro e muitas vezes inviável. Porém, ressalto que a obtenção de elevada produção a pasto só é possível com forrageiras de alta produção de matéria seca e bom valor nutritivo, sendo que estas são as mais exigentes em relação a fertilidade do solo”, finaliza.
Disponibilização de recursos
Sidnei Lopes acredita que um dos principais entraves na recuperação de pastagens é a disponibilização de recursos para uma atividade que possui retorno demorado ou, muitas vezes, que não é visto pelo produtor. Para amenizar os custos com a recuperação de pastagens, o pesquisador indica algumas alternativas específicas, sempre de acordo com o perfil de cada propriedade.
“Recorrer a linhas de crédito específicas para recuperação de pastagens, reformar pequenas áreas anualmente com recursos oriundos da propriedade e aplicar a integração com outras culturas em sistemas de integração lavoura pecuária (ILP) ou lavoura pecuária floresta (ILPF) são formas de amenizar os custos. Sobre a integração, em curto a médio prazo pode ser praticada a venda de grãos e, a longo prazo, a venda de madeira”, sugere Sidnei.