Pesquisas transformaram o Norte de Minas num dos maiores polos produtores banana e abriram caminho para cultivo de outras fruteiras em condições de escassez hídrica
(Belo Horizonte, 6/11/2019) A região Norte de Minas tem-se consolidado como um grande produtora de banana e responde por mais da metade da produção da fruta no estado. Nas últimas duas décadas, o crescimento da área plantada foi superior à média estadual, passando de 9,25 mil hectares para cerca de 17 mil hectares. Estima-se que a cadeia produtiva da banana gere cerca de 12 mil empregos diretos e 35 mil indiretos na região, que concentra sete dos dez maiores municípios produtores.
A EPAMIG, em parceria com outras instituições, tem atuado para o desenvolvimento da cultura por meio da geração e transferência de informações e tecnologias de produção e manejo. Em 1978 a instituição, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, implantou na região uma coleção de variedades de bananeiras, entre elas a ‘Prata-Anã’, e, em 1979, instalou o primeiro experimento com manejo da irrigação, técnica utilizada em 100% das áreas produtivas do Norte de Minas.
A partir daí muitos produtores viram no cultivo da fruta uma grande oportunidade. Vindo da província de Hokkaido, no Japão, área conhecida pelas baixas temperaturas e neve, o produtor Yugi Yamada conta ter se encantado, ainda na adolescência, pelas notícias de terras profícuas no Brasil. “Fui informado que existia uma empresa que tinha plantio de bananas para pesquisa e que lá tinha um japonês com quem eu poderia conversar. Eram a EPAMIG e o Jorge Kakida”, conta. Yamada conheceu os experimentos, apostou e comprou terras na região de Janaúba. No princípio eram 45 hectares, hoje são 2 mil, entre o Norte de Minas e outras terras planas como Delfinópolis e o Tocantins. “Posso dizer que a banana é um grande negócio”.
Jorge Kakida, produtor rural e gerente da EPAMIG Norte à época, conta que as pesquisas iniciais eram voltadas para plantio em áreas irrigadas. Segundo ele, o pacote tecnológico da EPAMIG, o cultivo de Yuji Yamada – que se tornou um exemplo para outros produtores – e o apoio de instituições financeiras fizeram com que o plantio da banana prata aumentasse. Produtora de bananas desde 1999, Hilda Loschi conta que começou com sete hectares. Hoje, a área plantada passou para 70 hectares. De família tradicional no cultivo de frutas, no ela diz que sempre que surgem questões em que precisa apoio técnico recorre às pesquisas. “Acompanhamos os trabalhos da EPAMIG e também levamos demandas que precisam ser solucionadas”, conta.
Ciclo hídrico
Um ciclo de banana consome, em média, 1300 milímetros de água. “Queremos chegar num ponto em que seja economicamente viável reduzir a quantidade de água usada na irrigação sem perder a viabilidade econômica da produção”, afirma a chefe geral da EPAMIG Norte, pesquisadora em irrigação, Polyanna Oliveira, que também destaca algumas variedades mais resistentes a climas secos como ‘Princesa’ e ‘Nanica’. “Com a banana ’Princesa’ reduzimos 40% da água na fase de desenvolvimento sem redução da produtividade. Seria uma boa opção para o Norte de Minas”, informa.
Além de irrigação, as pesquisas em bananicultura na região Norte de Minas geraram resultados nas áreas de adubação e nutrição de bananais, desenvolvimento e seleção de cultivares, combate a doenças e pragas, práticas de manejo da planta e do cacho, e cuidados pós-colheita. E, para além da banana, a EPAMIG já alcançou resultados que se estenderam para a produção de outras fruteiras. “A diversificação é necessária e abriram-se possibilidades com lima ácida Taiti, umbu, manga, abacaxi, maracujá e mangostão (ou mangostim)”, indica a coordenadora do Programa Estadual em Fruticultura da EPAMIG Maria Geralda Vilela Rodrigues.
Uma outra vantagem alcançada no semiárido foi o isolamento do mal da sigatoka negra. No começo da década de 2000 o Norte de Minas foi declarado área livre dessa praga. Para garantir a sanidade da produção o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), em parceria com associação de produtores de banana da região, passou a lacrar os caminhões de escoamento.
Maria Geralda atesta que as pesquisas e o conhecimento vão sendo construídos contando com a parceria de produtores, sociedade e outras instituições de pesquisa. De acordo com ela a tendência atual é redução de custos, práticas agroecológicas e uso racional de defensivos. “As possibilidades são infindáveis, o que temos a fazer é avaliar as possibilidades de solo e clima, para então trabalhar o manejo”, aponta.