Instituto mineiro desenvolveu novo método para medir níveis de proteína em amostras, além de um aplicativo que vai auxiliar em testes
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(Juiz de Fora – 17/3/2023) Para bebês prematuros ou recém-nascidos em tratamento, o leite humano representa a única garantia de sobrevivência, pois seus sistemas digestivos ainda não estão formados, o que impede a alimentação via leite de vaca ou fórmulas infantis. Com o objetivo de calcular níveis de proteína e, com isso, aprimorar a destinação de amostras em bancos de leite, professores e alunos do Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT), vinculado à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), têm desenvolvido uma pesquisa pioneira na área. Na última semana, como parte do trabalho, o grupo foi responsável pela criação de um aplicativo que realiza cálculos e conversões instantaneamente, aperfeiçoando pesquisas laboratoriais.
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Atualmente, bancos de leite humano conseguem realizar alguns tipos de testes, como examinar, de forma rápida e eficaz, o percentual de gordura e, por conseguinte, o teor energético das amostras. Porém, não são feitas análises dos níveis de proteína, um macronutriente essencial para o crescimento de muitos bebês prematuros, pois a metodologia tradicional é muito cara e demorada.
“O percentual de proteína é uma informação de grande importância para definir qual bebê receberá um determinado leite humano, pois cada amostra possui uma composição única e precisa atender a necessidades específicas do receptor. Nosso objetivo é facilitar esse processo com o desenvolvimento de um método para análise de proteína que seja de fácil implementação na rotina dos bancos de leite”, explica a professora e pesquisadora da EPAMIG ILCT, Gisela Machado, uma das coordenadoras da pesquisa. No método tradicional, a análise do teor de proteína pode levar até 24 horas para ser finalizada. Já na metodologia desenvolvida pela equipe do Instituto, esse tempo é reduzido para 5 minutos.
“As pesquisas estão muito mais avançadas na indústria de lácteos do que em leite humano, então a EPAMIG ILCT está cumprindo um papel institucional muito importante, que é o de unir as áreas da saúde e de laticínios, para a colaboração em pesquisas. Acho que, por meio dessa técnica, vamos ser capazes de salvar várias vidas, porque tendo mais informação, será possível aprimorar a destinação das doações”, celebra a professora e pesquisadora, Denise Sobral, que também coordena o trabalho.
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A atual pesquisa é um desdobramento da dissertação de mestrado de Cíntya Quirino, defendida em setembro de 2022, e a primeira sobre leite humano dentro do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados, parceria entre EPAMIG ILCT, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Embrapa Gado de Leite. Sob orientação de Denise Sobral, o trabalho teve como conclusão a nova metodologia, responsável por acelerar a análise de proteína. “Conseguimos equalizar uma fórmula para que a análise de proteínas não gere custo adicional nem tempo extra de trabalho aos técnicos dos bancos, pois é um processo bem rápido e que depende dos mesmos meios, ferramentas e materiais já utilizadas nos laboratórios”, detalha a nutricionista Cíntya Quirino.
Imagens feitas por Cíntya Quirino durante os experimentos realizados em seu mestrado na EPAMIG ILCT. Fotos: Cíntya Quirino
A dissertação de mestrado analisou 18 amostras, de 5 ml cada, que seriam descartadas e foram cedidas pelo banco de leite de Juiz de Fora (MG). O método desenvolvido compôs a primeira etapa da pesquisa maior, que veio a seguir. “Atualmente, finalizamos a segunda etapa, na qual validamos esse método em um montante de 298 novas amostras enviadas pela Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz], que também coordena a pesquisa e nos trouxe a demanda. A metodologia funcionou, porém verifiquei que podemos torná-la ainda mais simples, rápida e precisa. Por isso, faremos uma terceira etapa de testes no laboratório”, argumenta Gisela Machado.
EPAMIG e Fiocruz
Denise Sobral lembra que os trabalhos da EPAMIG ILCT envolvendo leite humano tiveram início oficial em 2019, quando o Instituto foi procurado pelo banco de leite de Juiz de Fora para uma colaboração técnica. O banco integra a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR), a maior e mais complexa do mundo, responsável por distribuir cerca de 160 mil litros de leite por ano a recém-nascidos de baixo peso internados em unidades neonatais no país.
“Mantivemos esse contato, que posteriormente se estendeu à Fiocruz, instituição que gerencia toda a rede de bancos de leite do país. O coordenador da rede, João Aprígio de Almeida, uma das maiores referências do mundo em leite humano, confiou no nosso trabalho e viu no ILCT uma possibilidade para aprofundar as pesquisas, então firmamos uma parceria para recebermos amostras e executarmos pesquisas em conjunto, somando nossas especialidades”, conta Denise.
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Resultados rápidos e na palma da mão
A pesquisa desenvolvida também gerou uma nova tecnologia para auxiliar nas medições realizadas em laboratório: um aplicativo que pode ser usado em celulares e computadores. O software foi desenvolvido pela zootecnista, e atualmente bolsista da EPAMIG ILCT, Letícia Scafutto de Faria, que observou a necessidade de diminuir as chances de erro no momento da conversão dos dados.
“Essa nova metodologia envolve algumas fórmulas matemáticas que levam ao resultado final e, num primeiro momento, a ideia era criar uma tabela de cruzamento de dados, que gerasse o percentual de proteína. Porém, imaginei que essa tabela pudesse ocasionar alguns erros de leitura. Então, tive a ideia de criar esse aplicativo, que acelerou muito a forma de obtenção de resultados, e, mais importante, reduziu as chances de imprecisão”, relata Letícia. De uso prático e simplificado, o aplicativo converte os dados de uma determinada amostra de leite em percentual de proteína, e ainda salva um histórico das análises anteriores feitas sobre aquele mesmo exemplar.
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“A EPAMIG ILCT quer seguir investindo em novas pesquisas sobre leite humano. Estamos com um projeto de reforma do Instituto e incluímos nele um laboratório específico para estudarmos o tema. Pretendemos também criar uma disciplina, tanto para o curso superior de Tecnologia em Laticínios quanto para o Mestrado Profissional do Leite, e seguir atendendo às necessidades que chegarem dos bancos e da Fiocruz”, conclui a professora Denise Sobral.