Produtor pode compensar a redução da produtividade com investimento em qualidade
(Viçosa, 15.3.2021) – No próximo dia 20 de março começa o outono, que poderá ser marcado pelas chuvas dentro da normalidade, temperaturas acima da média e pelo fim do fenômeno La Niña. Confira, a seguir, o prognóstico elaborado pelos pesquisadores Williams Ferreira (Embrapa Café/ EPAMIG) e Marcelo Ribeiro (EPAMIG).
O outono
Em 20 de março às 6h37 (horário de Brasília) ocorre o fenômeno astronômico denominado Equinócio de Outono do Hemisfério Sul. Nesse dia o número de horas da noite será aproximadamente igual ao número de horas do dia, ou seja, 12 horas. É nessa data que tem início o outono, estação de transição entre o verão e o inverno. Na região Sudeste, abril é o mês de transição entre a estação chuvosa, que se concentra entre outubro e março, e a estação mais seca que vai de maio a agosto. A redução das chuvas em abril é bem marcante nessa região.
O Brasil, devido à dimensão continental, com a maior parte de seu território dentro na zona tropical, apresenta o outono austral (em referência ao hemisfério Sul) com maiores características nas regiões Sudeste, Sul e Centro Oeste. Nessas regiões ocorre, ao longo da estação, redução gradativa dos índices pluviométricos e, consequentemente, da umidade do ar, bem como das temperaturas, favorecendo a formação de nevoeiros logo pela manhã nos vales entre as montanhas e em localidades com maior altitude. É nessa estação que ocorre também a redução no número de horas de luz diária.
Nas regiões Norte e Nordeste, que ficam mais próximas à Linha do Equador, o Outono é marcado pela ocorrência das temperaturas mais elevadas, bem como dos maiores índices pluviométricos do país.
O La Niña e a chuva nos últimos meses
Durante o próximo outono é esperado o término do atual fenômeno La Niña, com provável transição para um período de neutralidade (sem o El Niño). O fenômeno La Niña que costuma se desenvolver durante o período de abril a junho, no ano passado se estabeleceu no mês de agosto e atingiu sua força máxima durante os meses de outubro e dezembro. Atualmente, as condições do sistema acoplado atmosfera/oceano são consistentes com um La Niña fraco que se encontra em declínio (Figura 1).
Ainda atuante o impacto típico do La Niña, porém não garantido, é a maior umidade presente na Amazônia e nos estados no Norte do País. O atual evento, todavia, foi caracterizado pelo volume de chuvas abaixo da média em agosto no Amazonas e no Rio Grande do Sul; volume muito baixo de chuvas em setembro no Norte do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná; continuidade da pouca chuva em todo o Sul do país em outubro, e também em São Paulo; apesar do aumento com a chegada da estação das chuvas, o volume de chuvas abaixo da média se estendeu por toda a região central do Brasil, inclusive Minas Gerais; dezembro mais seco no Nordeste brasileiro, e numa faixa que se estendeu desde o sul do Amazonas passando pela região central do Brasil até o Norte de Minas e todo o Espírito Santo; aumento dessa faixa de secura em janeiro, atingindo todo o estado de Minas Gerais; em fevereiro o tempo seco voltou a atingir o Sul do Brasil, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Nas demais áreas do país, principalmente em Minas Gerais, as chuvas finalmente aumentaram; em março as chuvas tem ficado abaixo da média no Rio Grande do Sul, na Bahia e no Piauí, sendo nas demais regiões os volumes pouco acima da média, principalmente no Oeste do Pará e no Leste do Amazonas.
As chuvas no Outono
Nos próximos três meses há maior probabilidade de que as chuvas fiquem abaixo da média na região do Matopiba e, principalmente, na porção Leste do Mato Grosso, Norte de Goiás, Sul do Tocantins e em todo o Estado da Bahia. Nas regiões cafeeiras são esperadas chuvas dentro da média normal do período.
A chuva mês a mês
Em abril, chuvas abaixo da média deverão ocorrer em todo a região Nordeste do Brasil, Tocantins, Sul do Pará, Nordeste do Mato Grosso. Nas demais regiões do Brasil as chuvas deverão ocorrer dentro da média ou pouco abaixo desta.
Em maio, chuvas abaixo da média deverão ocorrer numa faixa litorânea que vai desde o Pará até a Bahia no extremo Norte. No Leste e Sudeste do Amazonas as chuvas poderão ocorrer acima da média. Nas demais regiões do Brasil as chuvas deverão ocorrer dentro da média ou pouco abaixo desta.
Em junho, chuvas pouco abaixo da média poderão ocorrer no Paraná, Santa Catarina, Pará e Amazonas. Nas demais regiões do Brasil as chuvas deverão ocorrer dentro da média ou pouco abaixo desta.
A chuva nos próximos dias
Até o final de março as chuvas deverão se concentrar em maior volume na região Central e Norte do Brasil. Em Minas Gerais as chuvas deverão reduzir, mas são esperados ainda entre 20 a 50 mm de chuva, sendo que os menores volumes de chuva até o final do mês são esperados para a Bahia e demais estados do Nordeste do Brasil.
As temperaturas no Outono
De modo geral a região central do Brasil deverá apresentar temperaturas acima da média ao longo dos três meses que compõem o outono. Em abril e maio as temperaturas deverão ocorrer acima da média principalmente na região do Sul do Tocantins e Piauí, toda a Bahia, Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas, São Paulo, Goiás, Sul do Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul. Em junho, temperaturas acima da média também poderão ocorrer no Amazonas. Deve-se, todavia, lembrar que nos próximos meses as temperaturas naturalmente deverão diminuir principalmente devido a entrada de frentes frias que se deslocam a partir do continente antártico. Até o final de março, as temperaturas poderão ser mais amenas do que o normal na maior parte do Brasil, principalmente no Acre e no Sul do Amazonas.
O café
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) aumentou, recentemente, a estimativa da próxima safra de café no Brasil para pouco mais de 47 milhões de sacas de 60 kg. A safra de café arábica, estimada em mais de 30 milhões de sacas, terá redução em torno de 30%, quando comparada com a safra de 2020. Apesar das dificuldades impostas pela atual pandemia no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) o consumo interno de café aumentou em 2020.
O mercado do café mantém a tendência de oscilação e alta nos preços e o cafeicultor que possuir estoques deve ficar atento ao mercado e aproveitar os bons preços para vender de acordo com sua necessidade, seja venda física ou futura. A saca de 60 kg do café “bebida dura tipo 6” registrou preços acima de R$700,00, em função de causas climáticas, bienalidade da cultura, além da elevação do dólar frente ao Real.
Como o atual ano é de baixa produtividade e as lavouras iniciaram o ciclo depauperadas, em virtude das altas produtividades da safra passada e do atraso no início das chuvas associadas ao calor acima da média no começo da Primavera no ano passado, o produtor deve ficar atento aos tratos culturais das lavouras. Incluindo, adubações dos solos e foliares, controle de plantas espontâneas, das pragas e doenças, e principalmente da cercosporiose, que neste ano tem se apresentado intensa. Além das desbrotas devido ao elevado número de podas realizadas após a safra passada.
Considerando que as chuvas nos meses de fevereiro e março contribuíram com a fase de enchimento dos grãos e, consequentemente, com a recuperação das lavouras. Apesar de o presente ano ser considerado de “baixa”, na atual safra o produtor pode compensar a redução da produtividade com maior investimento na qualidade do café.
Leia também: Em ano de safra menor, cafeicultores precisam investir na qualidade da produção
Prognóstico
A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente, daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET(5º DISME)/CPTEC-INPE.
O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.
1Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. – williams.ferreira@embrapa.br
2Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br